Dando continuidade às ações de enfrentamento à violência contra as mulheres, nesta terça-feira (28) terá início a segunda turma do Projeto Refletir, grupo reflexivo para homens. O projeto é realizado através de parceria entre a secretaria de Políticas para as Mulheres, o Tribunal de Justiça e o curso de Psicologia da Faculdade Salesiana de Macaé.
O grupo é uma proposta de intervenção estabelecida pela Justiça para autores de violência doméstica. A determinação judicial gera ordem de prisão caso seja descumprida e está prevista na Lei 13.984, sancionada em abril de 2020 como um complemento à Lei Maria da Penha.
A mediação do grupo é realizada pelo doutor em Psicologia de Comunidades e Ecologia Social e coordenador do curso de Psicologia da Faculdade Salesiana de Macaé, professor Marcello Santos. São realizados oito encontros, a cada 15 dias, com temáticas diversas que passam pelos direitos das mulheres, identidade masculina, machismo, Lei Maria da Penha, entre outras.
O Projeto Refletir é um importante local de trocas de experiências e deve ser entendido como uma ação integrada que também beneficia as mulheres. O objetivo é que os homens façam reflexões e tenham acompanhamento psicossocial.
“Intervenções como essa são importantes como forma de prevenção à violência, na medida em que promovem a autocrítica. E somente através dessa reflexão é que é possível ressignificar o modo como as pessoas se relacionam. Quando nos referimos aos abusos cometidos contra as mulheres, sabemos o quanto é necessária a desconstrução de uma cultura machista que legitima a violência de gênero”, avalia a secretária de Políticas para as Mulheres, Sheila Juvêncio.
Dentro dessa perspectiva, promover um espaço que não seja de julgamentos, mas sim de escuta, é a premissa principal do grupo, como ressalta o professor doutor Marcello Santos.
“A proposta é fugir do punitivismo e dar voz a esse homem para que, a partir da forma como ele se coloca, possa produzir reflexões acerca dos temas que são trabalhados a cada encontro. Como psicólogo, acredito que essa é a melhor maneira para modificar a estrutura de um comportamento e desarmar o machismo presente dentro de todos nós e da sociedade, produzindo um novo comportamento em que a resolução de conflitos não se dê pela força, pela violência, pela ameaça velada, que é o que o mundo masculino ensina a todos nós, homens e mulheres”, aponta.
O Projeto Refletir teve início em 2022, com a primeira turma formada por cinco homens. Com a experiência de quem já trabalha com perspectivas de gênero há cerca de 15 anos, Marcello Santos destaca que a experiência foi positiva.
“Todos mostraram suas fragilidades, interagiram e estavam abertos a refletir. Na última reunião tivemos a participação de duas advogadas do Centro Especializado de Atendimento à Mulher (CEAM), atendendo a um pedido deles, para esclarecerem dúvidas, além de termos firmado o compromisso do Laço Branco. Um dos participantes, inclusive, se ofereceu para dar seu depoimento em novos grupos, pois acredita que muitas coisas mudaram na percepção dele depois dos encontros”, afirma.
Ao todo, o Brasil possui mais de 300 grupos de reeducação de autores de violência doméstica. Isso segundo dados da pesquisa Grupos reflexivos e responsabilizantes para homens autores de violência contra as mulheres no Brasil – mapeamento, análise e recomendações. O trabalho foi feito pelo Colégio de Coordenadores Estaduais da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Poder Judiciário, pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina e pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com o apoio do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Mais de 60 mil homens já foram atendidos.
Por Jornalista Cris Rosa/ Secom Pref. de Macaé